Lições do cotidiano
Com certeza, o tipo mais extravagante que ele já conhecera era aquele que estava em sua frente. Parecia um modelo de catálogo de roupas esportivas.
O colete de pescaria era novo. Estava tão duro que parecia engomado. Todo o equipamento de pesca reluzia. Era especialmente novo. O feltro das botas era branco como neve. A vara de pescar nunca tinha sido usada e a carretilha estava montada na posição contrária.
Rico e exigente, pensou o instrutor.
No entanto, quando estendeu a mão recebeu um aperto forte e sincero.
O instrutor acertou a posição da carretilha. O aprendiz deu de ombros e riu de si mesmo. A lição de arremesso da linha foi ali mesmo no gramado. Depois foram para o rio.
Quando o principiante apanhou o primeiro peixe, soltou gritos de alegria. Na sequência, a cada peixe que pescava, fazia novos comentários.
Não é lindo? Fantástico? Maravilhoso? Enfim, todos os peixes, não importando o tamanho, eram louvados como pedras preciosas.
Quando, ao final da tarde, a pescaria acabou, ele se voltou sorridente e agradecido para o instrutor e confessou:
Quero lhe dizer uma coisa. Este foi um dos melhores dias da minha vida. Não era para eu estar aqui agora. Estive muito doente e os médicos acreditaram que eu não sobreviveria.
O instrutor ficou sem fala. Ele pensara tantas coisas a respeito daquele homem, que parecia quase um tolo, a gritar de alegria por cada peixe retirado da água.
E, contudo, ele estava comemorando a vida. A sua saúde. A possibilidade de ficar com os seus, na Terra, por mais um período.
Quando o instrutor o deixou na cabana, onde a esposa e os filhos o esperavam, pôde perceber que a nuvem escura que pairava sobre eles havia passado. Que eles podiam se divertir com algo tão simples como férias em família.
Enquanto retornava para seu próprio lar, o instrutor pensou que, no dia seguinte, partiria ao encontro de um novo pescador.
Mas, com certeza, nunca mais permitiria que roupas engomadas e caras ou uma carretilha ao contrário o levassem a acreditar que o aprendiz não teria alguma coisa para lhe ensinar.
* * *
A vida é uma escola inesgotável. A natureza é mestra. São mestres todos os seres. Alguns nos ensinam a paciência, outros a gratidão.
Alguns são mestres em renúncia e sabem conjugar o verbo ajudar de uma forma muito especial.
Aqueles que são espontâneos, que sabem sorrir com facilidade, que explodem em adjetivos pelo sol que nasce, a chuva que cai, a grama que cresce nos ensinam que o espetáculo da vida é inigualável.
Que ela é feita de pequenas coisas que são extremamente importantes. Basta que saibamos olhar, descobrir, desfrutar.
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